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sexta-feira, 23 de setembro de 2011

A ÁGUIA E A GALINHA

Vou deixar aqui uma interpretação pessoal a respeito da bastante conhecida fábula “a águia e a galinha”, trazida da África pelo educador James Aggrey, que transcrevo abaixo, mas sobre a qual sinto um convite para uma leitura buscando analogia com nossa espiritualidade.
"Era uma vez um camponês que foi à floresta vizinha apanhar um pássaro para mantê-lo cativo em sua casa. Conseguiu pegar um filhote de águia. Colocou-o no galinheiro junto com as galinhas. Comia milho e ração própria para galinhas. Embora a águia fosse o rei/rainha de todos os pássaros.

Depois de cinco anos, este homem recebeu em sua casa a visita de um naturalista. Enquanto passeavam pelo jardim, disse o naturalista:

– Esse pássaro aí não é galinha. É uma águia.
– De fato – disse o camponês. É águia. Mas eu a criei como galinha. Ela não é mais uma águia. Transformou-se em galinha como as outras, apesar das asas de quase três metros de extensão.
– Não – retrucou o naturalista. Ela é e será sempre uma águia. Pois tem um coração de águia. Este coração a fará um dia voar às alturas.
– Não, não – insistiu o camponês. Ela virou galinha e jamais voará como águia.

Então decidiram fazer uma prova. O naturalista tomou a águia, ergueu-a bem alto e desafiando-a disse:
– Já que você de fato é uma águia, já que você pertence ao céu e não à terra, então abra suas asas e voe!

A águia pousou sobre o braço estendido do naturalista. Olhava distraidamente ao redor. Viu as galinhas lá embaixo, ciscando grãos. E pulou para junto delas.

O camponês comentou:
– Eu lhe disse, ela virou uma simples galinha!
– Não – tornou a insistir o naturalista. Ela é uma águia. E uma águia será sempre uma águia. Vamos experimentar novamente amanhã.

No dia seguinte, o naturalista subiu com a águia no teto da casa. Sussurrou lhe:
-Águia, já que você é uma águia, abra suas asas e voe!

Mas quando a águia viu lá embaixo as galinhas, ciscando o chão, pulou e foi para junto delas.

O camponês sorriu e voltou à carga:
– Eu lhe havia dito, ela virou galinha!
– Não – respondeu firmemente o naturalista. Ela é águia, possuirá sempre um coração de águia. Vamos experimentar ainda uma última vez. Amanhã a farei voar.

No dia seguinte, o naturalista e o camponês levantaram bem cedo. Pegaram a águia, levaram-na para fora da cidade, longe das casas dos homens, no alto de uma montanha. O sol nascente dourava os picos das montanhas.

O naturalista ergueu a águia para o alto e ordenou-lhe:
– Águia, já que você é uma águia, já que você pertence ao céu e não à terra, abra suas asas e voe !
A águia olhou ao redor. Tremia como se experimentasse nova vida. Mas não voou. Então o naturalista segurou-a firmemente, bem na direção do sol, para que seus olhos pudessem encher-se da claridade solar e da vastidão do horizonte.

Nesse momento, ela abriu suas potentes asas, grasnou com o típico kau-kau das águias e ergueu-se, soberana, sobre si mesma. E começou a voar, a voar para o alto, a voar cada vez para mais alto. Voou... voou.. até confundir-se com o azul do firmamento... ".


Desde que li pela primeira vez esta fábula, logo a associei com a situação do espírito do homem (neste caso a águia), sob o jugo das crenças dogmáticas, das superstições e fanatismos, que criam entraves para o uso da razão no discernimento da Verdade, que criam divergências e separam os homens, todo este jugo inculcado na cultura da humanidade pelos desejosos de poder e impostores ao longo da história, facilmente propagadas pela ignorância e aceitas como verdades, enquanto iludem e limitam o espírito a viver em desconformidade à sua verdadeira natureza, a de livre-pensador...

Mas assim como a águia da fábula no momento que viu a luz erguendo-se no oriente (o sol nascente), quando também nossos olhos do entendimento se enchem com a luz do conhecimento que ilumina nossa razão, sentimos a confiança que podemos voar (viver) com destreza e ter acesso às alturas da sabedoria, e com ela vislumbrarmos uma sociedade mais justa e mais perfeita.

Encerro com uma frase do talvez mais célebre filósofo iluminista e ícone do deísmo:

“Eu acredito em um Deus que criou os homens, não acredito é no Deus que os homens criaram”. Voltaire

terça-feira, 13 de setembro de 2011

IGUALDADE E FRATERNIDADE

Minha irmã está de viagem por seis meses na França, e motivado pelos ideais historicamente ligados a este país e por seus emails aonde ela relata a oportunidade de já ter sentado numa mesa com pessoas de oito nacionalidades diferentes, e estar identificando que seus sonhos e os dos demais intercambistas são muito semelhantes apesar da diferença de suas origens geográficas e culturais, resolvi escrever um pouco sobre a igualdade e a fraternidade.
Já nos disse Platão que “aonde não há igualdade, a amizade não perdura”.
A humanidade, de maneira geral, ilude-se e valoriza demasiadamente as diferenças, esquecendo da essência que é o que nos iguala. O valor da amizade, do respeito, da ajuda, do amor, são os mesmos seja no ocidente ou no oriente, seja no cristão ou no hinduísta. Alguns imaginam que são diferentes porque possuem costumes e crenças diferentes, e não percebem que muitas vezes isto ocorreu por “localização geográfica” e pelo meio social que foi inserido, tivesse nascido na terra daquele que julga diferente ou crescido inserido no mesmo meio, muito provável seriam iguais naquilo que julgam serem diferentes. Mas há aquilo que não muda independente das fronteiras, das classes e até mesmo das épocas, como já foi citado, e nisto reside a essência de onde deveríamos partir para construirmos a fraternidade que constantemente buscamos, ficando em alerta e combatendo o germe da ignorância, da mentira, do fanatismo e das superstições, que são os flagelos que criam os separatismos e muitos males no indivíduo e na sociedade, e penso que o estudo e a reflexão disto deve fazer parte do interesse filosófico e da espiritualidade do homem que quer assumir o papel de construtor de uma melhor vida e de uma melhor sociedade.
Para isto é bom estarmos atentos com relação aos caminhos que separam os homens fomentando as diferenças, ou que falaciosamente pregam uma igualdade que só existiria pela submissão de todos a um mesmo molde rígido que anula o pensamento de que sempre pode haver uma solução melhor. A verdadeira igualdade e o verdadeiro caminho, ao contrário disto, deve fazer convergir os ideais pela tolerância levando os homens a superarem suas diferenças aceitando que elas existem tal como existe na natureza, mas antes buscando a convergência daquilo que verdadeiramente importa ao espírito humano, acreditando que podemos fazer melhor sempre, lutando contra os erros, as paixões e a personalidade, iluminando o espírito à Luz da Razão e da Ciência.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Iniciação


Eu estava ansioso, sabia que aquele dia marcaria minha vida, e num determinado momento, sabendo que havia chegado a hora, fui convidado a ir para uma sala aonde fiquei alguns instantes sozinho. Uma pessoa logo entrou e com uma bandeja nas mãos pediu que eu colocasse ali os meus pertences, e também que eu retirasse meus sapatos, vestindo em meus pés um calçado especial para pisar na sala para onde eu me dirigia, além também de ter colocado uma máscara em meu rosto. Novamente fui deixado ali sozinho, fiquei sentado e não podia fazer nada a não ser aguardar e ficar pensando. Pensei sobre como havia sido minha vida até aquele dia e como seria talvez dali para frente, pois certamente seria tudo muito diferente.

Eu ficava cada vez mais ansioso, percebia a movimentação pelo corredor ao lado, cada minuto parecia uma eternidade e meus pensamentos oscilavam entre felicidade e temor. Será que estava tudo bem? Haveriam esquecido de mim naquela sala fria? Ninguém aparecia para me dizer nada! Então alguém entrou pela porta e pediu que eu o acompanhasse, eu não sabia o caminho, mas fui conduzido por corredores sinuosos e estranhos para mim, até aonde meu guia abriu outra porta e pude ver a sala aonde haviam três pessoas que estavam conduzindo os trabalhos para o nascimento que aconteceria ali do qual eu era o convidado, sentei-me no banco destinado à mim.

O banco estava estrategicamente posicionado para eu ficar próximo a quem daria à luz naquele nascimento, minha esposa, em cujo ventre estava nossa filha prestes a vir a nascer como bebê, mas que ao mesmo tempo também nos fazia nascer como seres diferentes, eu também nascia naquela sala, eu estava sendo iniciado, iniciado como pai.

Em nossas vidas existem muitas iniciações que nos possibilitam nascer como um novo ser, muitos não percebem e não nascem, não evoluem, mas cabe a nós vivermos com consciência, com sensibilidade estes momentos para que eles cumpram seu objetivo metafísico e possamos nos elevar como seres humanos. Trabalhemos nossa sensibilidade, só ela nos eleva nas iniciações que Deus nos convida a ter.