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quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

OS SÍMBOLOS

Como primeiro passo investigativo, pode-se logo encontrar que o símbolo é uma representação figurativa de algo ou que evoca um conhecimento, um pensamento, podendo ser este símbolo algo pessoal ou mesmo coletivo e universal desde que todas as pessoas que tem acesso ao símbolo consintam numa mesma interpretação dele. Uma pessoa que ao caminhar na praia, em um dia especial e marcante de sua vida, junta uma bela concha e a deixa visível na estante de sua casa, vê nesta concha o símbolo que a faz recordar de um belo dia vivido em que estava na praia vivendo algo especial e do sentimento que a moveu a cuidadosamente eleger o objeto como representação daquele momento, e ainda que o objeto em si faça qualquer outro associá-lo simplesmente com seu local de origem, uma praia qualquer, a concha neste caso tornou-se um símbolo de interpretação e valor pessoal para quem a elegeu como tal, pois traz a recordação de algo além do que sua simples aparência sugere. Já como exemplo de um símbolo universal, aquele que extrapolou a esfera pessoal e tomou lugar no inconsciente coletivo, podemos considerar o da cruz vermelha, em qualquer lugar do mundo ao ver-se este símbolo estampado em algo se associa subitamente com a interpretação de serviço e socorro à vida humana, sem que seja necessário nenhuma palavra dita ou escrita, é assim quando o vemos estampado numa maleta, num jaleco, etc.

Mas assim que aprofundamos um pouco além do significado básico do que vem a ser os símbolos e o simbolismo, adentramos em campos mais vastos e complicados, mas também intelectualmente estimulantes, a respeito da profundidade deste tema e o que ele pode proporcionar para o homem que transforma o símbolo em causa motriz de muitas ações em sua vida, quando o símbolo se associa com a espiritualidade humana. Teriam os símbolos algum poder? Não, ao menos não propriamente o símbolo em si, mas o propósito e a ação que ele desperta no ser ao ter sido associado como uma referência que o faz recordar de seus objetivos, nisto reside o poder do símbolo, que seria neste caso a ativação de algo na consciência do próprio ser no instante em que ele ao olhar para um objeto que está fora desperta e recorda ao mesmo tempo um propósito que está dentro de si. Esta propriedade pode ter uma aplicação tanto boa quanto ruim, dependendo da mensagem que o símbolo estimula em quem o interpreta e das intenções que desperta em quem o adota. Joseph Campbell, sem dúvidas o maior estudioso de mitologias de nossa época, disse a respeito disto que: "um símbolo contém a estrutura que desperta nossa consciência para uma nova percepção interna da vida e da própria realidade. Através dos símbolos nós entramos emocionalmente em contato com nossa essência mais profunda, com os outros e com Deus".

É desta forma, através dos sentidos, da emoção experimentada e do propósito despertado pelo simbolismo que nasce a experiência mística do mesmo, e também podemos dizer mítica além de mística, no sentido de reviver ou reproduzir na própria experiência o mito ao qual faz referência. Mircea Eliade em seu livro "O Sagrado e o Profano", nos diz que uma das funções da experiência do sagrado nos espaços e nos símbolos que retratam um mito, sem entrarmos na avaliação da eficácia deste objetivo diante do fato de que a grande massa não alcança consciência deste sentido interpretativo, seria o de despertar no homem o dever e a necessidade de reviver em sua própria vida a lição do mito em si como uma orientação pedagógica para guiar suas experiências pessoais. Por exemplo, na cultura da Grécia antiga Hércules era o símbolo da força e tinha como seu mito os seus doze trabalhos, que eram suas lutas e superações para alcançar seu propósito, e assim a presença de sua imagem nos templos ou nas casas teria o objetivo, interpretando isto através da teoria do inconsciente coletivo, não de prestar culto e adoração ao personagem em si, mas mais profundamente de atuar na psicologia daqueles homens fazendo-os recordar e criar o pensamento de que cada um devia tomar o exemplo de Hércules e enfrentar seus trabalhos pessoais com toda sua força, superar-se para alcançar a conclusão de seus propósitos, e para este objetivo o mito necessitava, assim como é hoje com outros mitos, ser revivido nas mentes através dos teatros, nos templos, nas histórias contadas, para manter-se vivo e atuando sobre a vontade daqueles homens, e este seria justamente, segundo Mircea Eliade, o sentido primitivo e essência do que acontece com os mitos adotados pelas culturas em suas respectivas épocas passadas e atuais. 

Mircea Eliade também evidencia em seu livro "Imagens e Símbolos", que além do simbolismo por trás dos mitos que pertencem a uma cultura específica, há também os símbolos que nas mais diferentes culturas e nas mais diversas épocas conservaram um significado essencial e comum, uma interpretação simbólica quase que universal (mais uma vez a construção do inconsciente coletivo), encontrando-se nas mitologias, nas religiões, nas culturas primitivas, etc. Assim são por exemplo a água e o fogo como símbolo de purificação e de renovação desde a mais remota antiguidade, pelo efeito que produzem já que a água assim como limpa o corpo também simboliza e recorda que a conduta e a vida espiritual devem ser constantemente higienizadas, também o fogo aflora os sentidos e simboliza o combate ao frio e escuridão também espirituais, as altas montanhas ou monumentos verticais sempre presentes nos mitos como símbolo do contato com o plano superior, de onde o homem sente-se elevado e enxerga a amplidão do espaço, as cavernas, recintos ou templos que em suas respectivas épocas e nas mais diversas culturas são o símbolo do local fechado aonde adentra-se para viver uma experiência de transformação e sair de lá renascido (tal como o útero) para a vida profana, sem falar da presença universal do sol como símbolo de poder divino, por não ser possível a vida sem a sua presença, e muitos outros símbolos que retratam a busca do homem por uma relação transcendente com o universo que o rodeia.

Com o surgimento da filosofia, tal como a concebemos e que surgiu na Grécia justamente no momento que os homens começam a separar a sabedoria e o mito, foram gradualmente dispensados os símbolos e as imagens representativas em favor da busca pelo conhecimento lógico, a partir do momento que estes mesmos homens chegaram a uma conclusão de que a crença no sobrenatural derivada da crença cega nos mitos e a aceitação passiva das histórias contadas como respostas às grandes questões humanas traziam como conseqüência um não despertar da necessidade de indagações críticas e da busca por ampliar e melhorar os entendimentos, e assim nascia a raiz da ciência, dissociada do simbolismo e da espiritualidade. No entanto, após tanto o homem caminhar guiado pelo conhecimento lógico e ausente de simbolismo, alguns pensadores chegaram a uma avaliação crítica e a estudos de que em sua essência o símbolo teria uma função de despertar algo no homem, de proporcionar uma reativação de seus deveres e propósitos em meio as experiências comuns e que isto é mais difícil de conseguir sem a presença inquietante do símbolo, pois neste caso o conhecimento lógico, a razão, pode de fato criar os melhores pensamentos para conduzirmos nossa vida com moral e ética quando esta está em pleno funcionamento, mas para recordar durante as experiências pessoais destes propósitos e da necessidade de uma conduta alinhada com os mesmos, muitas vezes torna-se útil o símbolo como estímulo para auxiliar o homem trazendo a tona estes pensamentos na medida que o símbolo sintetiza e numa fração de segundos traz consigo uma série de significados à mente. Ainda não conseguimos recordar e ter presente a qualquer instante todo e qualquer pensamento elevado prescindindo de estímulos externos para despertá-los dentro da mente em momentos oportunos. Por este motivo Mircea Eliade nos diz: "o pensamento simbólico precede à linguagem e a razão discursiva e o símbolo pertence à vida espiritual, podemos camuflá-lo, mutilá-lo, degradá-lo, mas jamais podemos extirpá-lo". A mensagem de pensadores como Mircea Eliade e Joseph Campbell é de que devemos assimilar o pensamento simbólico como interpretação do símbolo ou dos mitos, e refletir a respeito do que eles podem nos falar como aplicação de um conhecimento na vida, o que está muito além de ser uma crença em objetos ou deificação de personagens.

Em 1985 foi realizada uma entrevista e produzido um documentário com Joseph Campbell que no Brasil encontra-se com o nome "O poder do Mito". Transcrevo abaixo, com tradução livre, um interessante trecho da entrevista aonde fala-se a respeito dos símbolos em sua interpretação mística:

Moyers: Você vê uma distinção entre a religião baseada na interpretação histórica e literal dos símbolos e a religião onde os símbolos são vistos como referências míticas que nos ajudam a ver a nós mesmos.
Campbell: Sim, a última é a religião do misticismo, a outra a religião da crença em objetos concretos, Deus como um objeto concreto. Para entendermos um símbolo completo nós devemos deixá-lo ir. Quando você pode deixar o significado literal da tradição religiosa morrer, então ela retorna renovada. E isso então o liberta para respeitar mais outras tradições religiosas. Você não precisa ter medo de perder algo quando você deixa a tradição.
Moyers: Algo parecido com isso não está acontecendo em alguns corpos religiosos? Na Igreja Católica Romana, por exemplo, muitas pessoas já não aceitam mais a autoridade dos clérigos em regularem suas vidas, mas ao mesmo tempo eles continuam próximos da tradição católica. Eles parecem sentir por si mesmos de uma nova forma.
Campbell: Sim, está acontecendo em muitos grupos. Muitas pessoas aprenderam a deixar os símbolos religiosos falarem diretamente a elas para dirigir suas vidas. Elas não acreditam que um grupo de bispos ou outros líderes religiosos possam se reunir em conferências e decidir por elas qual interpretação de um símbolo deve ser acreditada. Mas elas não rejeitam suas próprias interpretações religiosas, elas descobriram que os símbolos, quando não são impostos literalmente, podem falar mais claramente à diversas tradições. As Igrejas precisam se perguntar: Nós vamos enfatizar a história de Cristo ou a segunda pessoa da Trindade Divina, aquele que conhece o Pai? Se você dá demasiada importância ao relato histórico, você “desenfatiza” o poder espiritual que é o símbolo da consciência que está dentro de nós.
Moyers: Não é desconcertante para uma pessoa re-examinar suas tradições religiosas desta forma?
Campbell: Sim, este é o problema de deixar a tradição morrer. O autor místico Meister Eckhart escreveu uma vez que a definitiva mudança é trocar Deus por Deus. As pessoas se apavoram com a idéia de que todos nós podemos ter algo em comum, que elas estão abrindo mão de algum tipo de exclusividade sobre a verdade. Isso é mais menos como você descobrir que é francês e é um ser humano ao mesmo tempo. Exatamente este é o desafio que as grandes religiões enfrentam na Era Espacial.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

DEÍSMO

(visite também o site do NEODEÍSMO, uma nova proposta para uma vivência pragmática e associativista do deísmo: www.deismo.com.br)

O deísmo é uma postura filosófica que admite a existência de Deus, mas não aceita o dogma da revelação divina, das verdades revelas das religiões.

Para o deísmo Deus não é um ser antropomórfico (forma de homem), não interfere “pessoalmente” na vida do homem e da humanidade, é a Força que criou o Universo, a Criação, é um Deus que se faz presente enquanto Suprema Inteligência transmutada em verdadeiras Leis Eternas que regem esta Criação, a exemplo da evolução e causa e efeito, tanto aplicáveis na matéria como na própria vida do homem, cabendo ao homem saber conduzir-se e ser responsável como parte da Criação, sendo que para exercer esta responsabilidade e manter-se em acordo com as ditas Leis que deve descobrir e compreender, cabe o uso da razão e da sensibilidade concomitantes, da capacidade de observar e de aprender, ferramentas que fazem parte de sua constituição, e não da simples ingenuidade ou da crença cega.


O deísmo está muito esquecido, e até manchado e difamado como um tipo de ateísmo velado, mas ser deísta não é ser ateu, é ser atento ao essencial... Ser deísta é algo como afirmar: “acredito em Deus, mas não acredito nas religiões”, e isto não deve ser visto como uma ofensa, pelo contrário, é apenas uma postura filosófica, pois se um cristão, por exemplo, crê na autoridade da sua religião e não crê no islamismo ou no hinduísmo, o deísta simplesmente não crê em nenhuma, mas crê na essência, no Universo como obra de um Princípio Criador, na vida como algo divino e sagrado, no bem, no amor, etc. Isto porque o deísta entende que no final, cedo ou tarde, toda religião passa, pensamento este representado na frase “mitologia é a religião dos outros”, dita por Joseph Campbell, ao explicar que a verdade revelada de uma religião, para a outra não passa de um mito, e que toda mitologia um dia foi religião, por mais que tenha durado milênios tal como a religião dos egípcios que durou mais de três mil anos. O deísmo leva a pressentir que no fim o que prevalece e não vira mitologia é a essência, a busca de uma relação com um universo infinito e sagrado, uma vida espiritualizada, e que nesta caminhada de milênios o homem vem aprendendo a se desprender dos exageros e dos fanatismos frutos da ignorância. Muitos filósofos e pensadores voltaram-se para o deísmo, tal como Voltaire que afirmou “acredito no Deus que criou os homens, não acredito é no deus que os homens criaram”. Para o deísta, Deus se revela na ciência plasmada no universo, na lógica que encontra em tudo que lhe rodeia e na vida em si mesma. No cristianismo a palavra Logos aparece como sendo o Verbo de Deus, que se manifestou na pessoa de Jesus, estando escrito no livro sagrado cristão que “o Logos se fez carne e habitou entre os homens”. A expressão foi tomada dos gregos, para os filósofos gregos Logos era a Sabedoria manifestada no Universo, de onde deriva a palavra lógica, deixando entender que para os filósofos metafísicos o desenvolvimento da lógica era o aprofundamento no Logos, ou seja, a busca da Verdade.

Mas se para o teísta, aquele que acredita na verdade revelada da religião, existem além dos dogmas as regras as quais ele segue com a intenção de fazer-se uma pessoa de bem (caridade, amor ao próximo, prática do bem, etc.), de onde o deísta tira suas orientações para harmonizar-se com Deus, já que acredita Nele mas não crê em dogmas e em imposições de terceiros? Como já foi mencionado, a bússola do deísta é a razão, seria necessário mandamentos divinos para entender que é errado roubar, matar, mentir, desrespeitar seus semelhantes ou abandonar alguém doente? O deísta raciocina sobre o bem e sobre o mal, e sobre as consequências de suas escolhas na vida diante de sua convicção de que há uma razão maior para estar vivo, e que ele é parte de uma humanidade que herdará a consequência de seus atos, o que traz o senso de dever ainda maior do que simplesmente não cometer pecados, traz a responsabilidade de buscar uma melhor educação, mais cidadania, melhores relacionamentos, mais ética, etc.
E como o deísta vê os livros sagrados das religiões já que não crê na verdade revelada dos mesmos, já que não crê em intermediários entre Deus e os homens? O deísta então desrespeita ou odeia os livros sagrados que o teísta reverencia? Não se ele compreender bem o que é ser deísta e ser ético, não repetindo o mesmo ódio pelos que pensam diferente tal qual fazem os crentes fanáticos, para o deísta o livro sagrado de qualquer religião pode ser visto como um livro que é em si um símbolo: o de que há ali a representação da crença na existência de Deus, mas que o conteúdo das páginas, isto sim, pode ser interpretado, questionado e até mesmo rejeitado pela sua livre razão. O deísta, se compreende bem o deísmo, a ética e for livre-pensador, não repudia abrir um livro religioso e encontrar nele material para reflexão filosófica espiritualista, assim como pode o fazer com a mitologia, filosofia, arte ou ciências, mas exerce o direito de questionar aquilo que é contrário à razão, selecionando o conhecimento essencial, não aceitando por verdade factual aquilo que para ele é apenas metafórico ou até mesmo fantasioso, que é produto de mentes de uma época sem ciência, discriminando os enxertos e excessos supersticiosos presentes nestes livros, que o deísta vê como a versão de uma época supersticiosa e imaginativa aonde se queria explicar tudo enquanto se escrevia a história de um povo e de sua religião. O deísta também pesa em seu discernimento a realidade das interferências dos manipuladores do poder em épocas em que reis e sacerdotes caminhavam juntos, aonde os líderes que conduziam as religiões e interpretavam os livros sagrados estavam ao lado ou eram os próprios que governavam os interesses do Estado, de modo que era estratégico impressionar e atemorizar as mentes para mantê-las subjugadas, sendo que por isto tudo o deísmo historicamente desde sua origem alerta para o perigo iminente na crença cega nos livros sagrados seja de qual religião for, pois este processo histórico é semelhante nos mais diversos lugares do mundo. Os livros sagrados de qualquer religião são, como já foi dito, a representação da crença na existência de Deus sob condições histórico-culturais, são obras humanas, são livros repletos de simbolismos, metáforas e influências de mitos, sempre envoltos nos dogmas e nas crenças particulares dos seus povos de origem, com suas linguagens alegóricas e metafóricas que não podem ser tomadas literalmente. Justamente pelo fanatismo é que se geram as discórdias e por vezes até mesmo o ódio entre os crentes em suas lutas pelo predomínio da sua verdade, além de criarem travas para o livre pensar.
E sobre a essência espiritual do homem, sobre seu espírito? O deísta a partir do momento que admite Deus como Inteligência Divina plasmada na Criação, reconhece-se também como elemento desta Criação, reconhece em si uma partícula desta inteligência, a chamada “partícula divina”, algo em si que o eleva da simples condição da realidade física, algo metafísico, algo que o conecta ao eterno, mas não se atreve a pintar cenários de um “mundo do além” destinado a esta partícula divina, trilha seu caminho confiando na vida vivida com sabedoria e não alimenta fantasias, vive uma espiritualidade particular sua, que em geral resume-se em crer na existência de um Deus que difere do Deus religioso, crer no dever de praticar as virtudes, crer na eternidade sem dogmatizá-la e sem afligir-se por não ter respostas prontas, ser valente diante das incertezas preferindo o caminho da ciência e da razão, ver-se como um livre-pensador, alguém que ama a possibilidade de transitar livremente pelas vias do pensamento, juntando as verdades que encontra como alguém que monta apaixonadamente um grande quebra-cabeças, infinito e eterno.
Sim, eu sou deísta.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

CRER X QUERER

Quando se fala em crer logo se associa à idéia de crer em dogmas, crer em milagres, ou crer em coisas fantasiosas, sem fundamento, etc. Mas há também o crer em coisas práticas, crer em prerrogativas e ideais, um outro tipo de crença mas que pode também levar à alienação justamente pela passividade do tão somente crer e mais nada.Por exemplo, é possível que alguém acredite de fato em um conceito legítimo como o de que a humanidade, o homem em si, deve evoluir como ser humano revendo e mudando seus paradigmas para realizar esta evolução, conhecendo a si mesmo, buscando pensar e agir melhor, etc. Mas ao mesmo tempo a própria pessoa que assimilou e assumiu estas verdades, pode ela própria não gostar de ver-se posta à prova de modo a ter que pensar sobre seus paradigmas ou mesmo não gosta de fazer esforço durante os episódios do seu dia-a-dia para identificar e modificar seus pré-conceitos formados e atitudes contrárias à verdade que consentiu... “Pra quê se estressar com estas coisas?!”, “é assim que as coisas funcionam com todo mundo, ninguém é ruim por isso...”, diz internamente para si mesmo, mas em outro momento lá está o crente achando lindo quando lê ou escuta algo que acredita que é importante e que crê já estar no caminho, crê já estar praticando, simplesmente porque reconhece aquilo como verdade. É mais um crente, daquele que apenas acredita que algo é uma verdade, mas saindo do êxtase daquele instante em que lustra sua preciosa “verdade”, não quer vivê-la como tal porque é “cansativo” lutar e crescer internamente, já basta a ocupação da rotina diária... “Seria bom”, mas ainda não... Possui o crer, mas não o substitui pelo querer. Vislumbra e admira o outro lado do rio, mas não faz a travessia.

Relembro a frase de William Shakespeare: “A transformação é uma porta que só se abre por dentro”. Cada um tem que despertar em si a vontade de querer viver com a nova postura que na busca reconhece ser melhor, alimentando a mente e o coração com o que for necessário para as etapas desta transformação, passando do crer, neste sentido, ao querer, e do querer ao fazer.
Como já escrevi em outro texto, alguém que me lê pode estar perguntando: “ele não possui estes defeitos que está criticando?”. E vou repetir a resposta: Sim, muitas vezes já me vi assim, mas desde o momento que passei a pensar e me questionar sobre isto, este tipo de postura passou a me incomodar, e desde então assumi a minha luta, e entre uma vitória aqui e uma derrota ali, vou me sentindo mais forte e querendo me superar. Como disse Carlos Drummond de Andrade: "só é lutador quem sabe lutar consigo mesmo". A pergunta final é: você já assumiu esta luta?


sábado, 15 de outubro de 2011

A UNIÃO

Poderíamos falar de união em muitos sentidos já que este termo é utilizado para expressar os mais diversos assuntos, fala-se em união empresarial, união de propósitos, ou da união como forma de associação para atingir interesses ou metas, podendo estas uniões serem ainda estabelecidas por prazos determinados ou indeterminados, mas o sentido que buscarei refletir é o da união fraterna e porque não dizer também "mística" dos homens e sua influência em sua psicologia e seu espírito.

Francis Bacon disse que "forças quando unidas são mais fortes", e de fato muitas pessoas movidas por um pensamento em comum ao unirem-se dão uma força a este pensamento e atuam para consolidá-lo de uma forma que não fariam sozinhas, o que explica um ditado nascido na cultura africana que diz: "quando o rebanho é unido, o leão deita com fome". A união nos ajuda a enfrentarmos  nossos temores e solucionarmos mais facilmente os problemas que nos entravam, tanto pelo incentivo gerado ao vermos que nossa luta ou dificuldade é também sentida e compartilhada com outro que está disposto a junto conosco encontrar a solução e superar a adversidade, como pelas soluções originadas de muitas mentes convergindo para resolver um problema em comum. A união nos gera uma coragem que nos brota no coração no momento que sozinhos nos acharíamos fracos ou vulneráveis mas que junto com outros sentimos fortalecer a luz da esperança de que é possível atravessar a escuridão, tal como as velas que sozinhas geram uma luz fraca na noite, mas lado a lado com muitas outras velas formam pela união uma luz muito mais potente. A união também nos ajuda desta forma e pelos mesmos motivos a dividir a carga de nossos sofrimentos.

Em nossa busca por evoluirmos a união é uma força e um poder, sendo a verdadeira união neste sentido a união das mentes, a união em um propósito comum que possa ser o norte das ações do homem, baseado na superação das diferenças, no propósito de aperfeiçoamento moral, de construção de um mundo melhor e mais humano. O desafio está em consolidar os laços desta união com pessoas que pensam diferente, pois isto nos obriga a darmos mais atenção e mais valor ao que temos em comum, diferentemente dos fanáticos que unem-se pelo próprio fanatismo e focam-se nas críticas das diferenças dos demais, geralmente movidos pelo seu apego às suas próprias crenças e superstições, gerando o entorpecimento da razão e o afastamento dos corações.

Há algo que deve ser diretriz em nossa união como homens na construção de uma sociedade e mesmo na construção de nossa própria trajetória de vida, e esta deve ser o propósito do Bem e a busca pela Verdade. Isto requer desprender-se das fôrmas de pensamentos e exercer a liberdade de pensar, admitindo que "o melhor" é algo que estamos constantemente construindo, e neste processo podemos ter até mesmo de reconstruir nossos conceitos e bases culturais quando estas mostram-se defeituosas já que o papel do construtor não é somente construir mas também desmanchar o que estava mal feito, reconstruindo algo melhor, e é importante refletirmos sobre isto se buscamos harmonia em nossas vidas e na humanidade, já que tentar conciliar a Verdade e a mentira será sempre uma falácia, e ainda que sob panos quentes sempre estará presente o separatismo com seu germe da discórdia e fantasma das guerras.

sábado, 1 de outubro de 2011

MÁSCARAS DA HIPOCRISIA

De acordo com o dicionário, hipocrisia é sinônimo de fingimento, impostura, simulação e falsidade. Falar sobre hipocrisia na sociedade, na política, nas religiões, não é aqui o meu objetivo, pretendo refletir sobre a hipocrisia que há em mim e em você que me lê. Não, não se ofenda, não estou dizendo que somos hipócritas “conscientemente”, se é que seria possível associar estas palavras já que o ser consciente não seria hipócrita, mas fica mais fácil de entender. A hipocrisia no seu aspecto macro (sociedade, política, religiões, etc.) é reflexo e consequência da hipocrisia que está no micro (homem).
Para que não haja hipocrisia deve-se buscar a coerência, o equilíbrio, entre pensamento, palavra e ação. Quando eu suponho ter dentro de mim uma verdade que assumo como tal, mas minhas palavras, meus diálogos com os demais, não refletem a dita verdade que outrora eu estava afirmando, então estou escorregando na hipocrisia. Se minhas palavras soam como um bem, podendo até mesmo servir no dado momento a estimular o bem no outro, mas eu internamente penso diferente ainda que esconda isto, estou também sendo hipócrita. E por fim se eu penso e falo, mas não faço, mais uma vez estou sendo hipócrita, e esta é o tipo que mais facilmente identificamos (mais facilmente ainda no outro) em uma sociedade aonde parecer substitui a necessidade de ser. Assim o sujeito logo supõe que se ele consegue parecer inteligente e culto, não precisa se esforçar para ser de verdade, se ele tem muitos livros e aprendeu a citar algumas coisas parecendo alguém que lê, não precisa então “gastar” seu tempo lendo, se o jovem “faz bonito” diante dos pais e parece um bom filho, logo não se esforça para ser o mesmo quando está longe dos pais já que ser “bom filho” é algo que importa aos pais dele e talvez não aos amigos. Da mesma forma para muitos basta parecer espiritualizado, repetindo frases desgastadas aonde menciona Deus ou praticando algum culto religioso para parecer que cultiva sua espiritualidade e merece a "piedade divina", enquanto não faz nem o mínimo do verdadeiro trabalho do homem espiritualizado que é crescer internamente, instruir-se e ser cada dia mais virtuoso e mais humano. Pensamento, palavra e ação devem estar unidos como vértices de um triângulo, o triângulo do caráter, se um dos vértices se rompe, desconfigura-se o caráter.
Mas pensamento, palavra e ação devem ser coerentes não apenas cuidando-se para não errar, mas também como um “exame de consciência” para fazermos regularmente e medirmos nossos passos na caminhada de nossa evolução, pois o ser que tem bons pensamentos, boas palavras, mas não sabe agir, ele pode estar falhando por não praticar o bem, mesmo que não esteja fazendo o mal. O ser que tem boas palavras, boas ações, mas não pensa, apenas aprendeu a seguir “boas regras” e acomoda-se, este pode estar simplesmente falhando consigo mesmo no livre exercício da razão, e quando as regras lhe faltarem, forem insuficientes eu até mesmo abaladas, ele possivelmente não saberá mais como caminhar. E ainda o ser que tem bons pensamentos, boas ações, mas não se exercita nas palavras, também está falhando pois o bem que se sabe não pode morrer consigo mesmo, é importante saber ensinar com o exemplo certo mas também com as palavras certas, por isto sempre os três juntos e em correspondência: pensamento, palavra e ação... mirando a evolução!
Mas até aqui alguém já teria me perguntado: será que eu não tenho também dentro de mim este germe da hipocrisia que estou aqui criticando? Tenho sim, e você não tem? Mas a minha já faz bastante tempo que começou a me incomodar, e em uma batalha ganha aqui, outra perdida ali, vou assumindo a luta... porque é fácil incomodar-se com a hipocrisia alheia mas é ainda mais fácil ser conivente com a própria, até porque é comum reconhecê-la no outro e é difícil descobrir que ela também está em si mesmo, chegando a ignorar-se a existência dela em si mesmo, mas está na hora de descobri-la. Oscar Wilde disse que: “o descobrimento é o primeiro passo para a evolução de um homem ou de uma nação”, neste caso a frase também é válida para as descobertas no conhecimento de si mesmo, descoberta de valores mas também de defeitos a serem corrigidos. 

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

A ÁGUIA E A GALINHA

Vou deixar aqui uma interpretação pessoal a respeito da bastante conhecida fábula “a águia e a galinha”, trazida da África pelo educador James Aggrey, que transcrevo abaixo, mas sobre a qual sinto um convite para uma leitura buscando analogia com nossa espiritualidade.
"Era uma vez um camponês que foi à floresta vizinha apanhar um pássaro para mantê-lo cativo em sua casa. Conseguiu pegar um filhote de águia. Colocou-o no galinheiro junto com as galinhas. Comia milho e ração própria para galinhas. Embora a águia fosse o rei/rainha de todos os pássaros.

Depois de cinco anos, este homem recebeu em sua casa a visita de um naturalista. Enquanto passeavam pelo jardim, disse o naturalista:

– Esse pássaro aí não é galinha. É uma águia.
– De fato – disse o camponês. É águia. Mas eu a criei como galinha. Ela não é mais uma águia. Transformou-se em galinha como as outras, apesar das asas de quase três metros de extensão.
– Não – retrucou o naturalista. Ela é e será sempre uma águia. Pois tem um coração de águia. Este coração a fará um dia voar às alturas.
– Não, não – insistiu o camponês. Ela virou galinha e jamais voará como águia.

Então decidiram fazer uma prova. O naturalista tomou a águia, ergueu-a bem alto e desafiando-a disse:
– Já que você de fato é uma águia, já que você pertence ao céu e não à terra, então abra suas asas e voe!

A águia pousou sobre o braço estendido do naturalista. Olhava distraidamente ao redor. Viu as galinhas lá embaixo, ciscando grãos. E pulou para junto delas.

O camponês comentou:
– Eu lhe disse, ela virou uma simples galinha!
– Não – tornou a insistir o naturalista. Ela é uma águia. E uma águia será sempre uma águia. Vamos experimentar novamente amanhã.

No dia seguinte, o naturalista subiu com a águia no teto da casa. Sussurrou lhe:
-Águia, já que você é uma águia, abra suas asas e voe!

Mas quando a águia viu lá embaixo as galinhas, ciscando o chão, pulou e foi para junto delas.

O camponês sorriu e voltou à carga:
– Eu lhe havia dito, ela virou galinha!
– Não – respondeu firmemente o naturalista. Ela é águia, possuirá sempre um coração de águia. Vamos experimentar ainda uma última vez. Amanhã a farei voar.

No dia seguinte, o naturalista e o camponês levantaram bem cedo. Pegaram a águia, levaram-na para fora da cidade, longe das casas dos homens, no alto de uma montanha. O sol nascente dourava os picos das montanhas.

O naturalista ergueu a águia para o alto e ordenou-lhe:
– Águia, já que você é uma águia, já que você pertence ao céu e não à terra, abra suas asas e voe !
A águia olhou ao redor. Tremia como se experimentasse nova vida. Mas não voou. Então o naturalista segurou-a firmemente, bem na direção do sol, para que seus olhos pudessem encher-se da claridade solar e da vastidão do horizonte.

Nesse momento, ela abriu suas potentes asas, grasnou com o típico kau-kau das águias e ergueu-se, soberana, sobre si mesma. E começou a voar, a voar para o alto, a voar cada vez para mais alto. Voou... voou.. até confundir-se com o azul do firmamento... ".


Desde que li pela primeira vez esta fábula, logo a associei com a situação do espírito do homem (neste caso a águia), sob o jugo das crenças dogmáticas, das superstições e fanatismos, que criam entraves para o uso da razão no discernimento da Verdade, que criam divergências e separam os homens, todo este jugo inculcado na cultura da humanidade pelos desejosos de poder e impostores ao longo da história, facilmente propagadas pela ignorância e aceitas como verdades, enquanto iludem e limitam o espírito a viver em desconformidade à sua verdadeira natureza, a de livre-pensador...

Mas assim como a águia da fábula no momento que viu a luz erguendo-se no oriente (o sol nascente), quando também nossos olhos do entendimento se enchem com a luz do conhecimento que ilumina nossa razão, sentimos a confiança que podemos voar (viver) com destreza e ter acesso às alturas da sabedoria, e com ela vislumbrarmos uma sociedade mais justa e mais perfeita.

Encerro com uma frase do talvez mais célebre filósofo iluminista e ícone do deísmo:

“Eu acredito em um Deus que criou os homens, não acredito é no Deus que os homens criaram”. Voltaire

terça-feira, 13 de setembro de 2011

IGUALDADE E FRATERNIDADE

Minha irmã está de viagem por seis meses na França, e motivado pelos ideais historicamente ligados a este país e por seus emails aonde ela relata a oportunidade de já ter sentado numa mesa com pessoas de oito nacionalidades diferentes, e estar identificando que seus sonhos e os dos demais intercambistas são muito semelhantes apesar da diferença de suas origens geográficas e culturais, resolvi escrever um pouco sobre a igualdade e a fraternidade.
Já nos disse Platão que “aonde não há igualdade, a amizade não perdura”.
A humanidade, de maneira geral, ilude-se e valoriza demasiadamente as diferenças, esquecendo da essência que é o que nos iguala. O valor da amizade, do respeito, da ajuda, do amor, são os mesmos seja no ocidente ou no oriente, seja no cristão ou no hinduísta. Alguns imaginam que são diferentes porque possuem costumes e crenças diferentes, e não percebem que muitas vezes isto ocorreu por “localização geográfica” e pelo meio social que foi inserido, tivesse nascido na terra daquele que julga diferente ou crescido inserido no mesmo meio, muito provável seriam iguais naquilo que julgam serem diferentes. Mas há aquilo que não muda independente das fronteiras, das classes e até mesmo das épocas, como já foi citado, e nisto reside a essência de onde deveríamos partir para construirmos a fraternidade que constantemente buscamos, ficando em alerta e combatendo o germe da ignorância, da mentira, do fanatismo e das superstições, que são os flagelos que criam os separatismos e muitos males no indivíduo e na sociedade, e penso que o estudo e a reflexão disto deve fazer parte do interesse filosófico e da espiritualidade do homem que quer assumir o papel de construtor de uma melhor vida e de uma melhor sociedade.
Para isto é bom estarmos atentos com relação aos caminhos que separam os homens fomentando as diferenças, ou que falaciosamente pregam uma igualdade que só existiria pela submissão de todos a um mesmo molde rígido que anula o pensamento de que sempre pode haver uma solução melhor. A verdadeira igualdade e o verdadeiro caminho, ao contrário disto, deve fazer convergir os ideais pela tolerância levando os homens a superarem suas diferenças aceitando que elas existem tal como existe na natureza, mas antes buscando a convergência daquilo que verdadeiramente importa ao espírito humano, acreditando que podemos fazer melhor sempre, lutando contra os erros, as paixões e a personalidade, iluminando o espírito à Luz da Razão e da Ciência.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Iniciação


Eu estava ansioso, sabia que aquele dia marcaria minha vida, e num determinado momento, sabendo que havia chegado a hora, fui convidado a ir para uma sala aonde fiquei alguns instantes sozinho. Uma pessoa logo entrou e com uma bandeja nas mãos pediu que eu colocasse ali os meus pertences, e também que eu retirasse meus sapatos, vestindo em meus pés um calçado especial para pisar na sala para onde eu me dirigia, além também de ter colocado uma máscara em meu rosto. Novamente fui deixado ali sozinho, fiquei sentado e não podia fazer nada a não ser aguardar e ficar pensando. Pensei sobre como havia sido minha vida até aquele dia e como seria talvez dali para frente, pois certamente seria tudo muito diferente.

Eu ficava cada vez mais ansioso, percebia a movimentação pelo corredor ao lado, cada minuto parecia uma eternidade e meus pensamentos oscilavam entre felicidade e temor. Será que estava tudo bem? Haveriam esquecido de mim naquela sala fria? Ninguém aparecia para me dizer nada! Então alguém entrou pela porta e pediu que eu o acompanhasse, eu não sabia o caminho, mas fui conduzido por corredores sinuosos e estranhos para mim, até aonde meu guia abriu outra porta e pude ver a sala aonde haviam três pessoas que estavam conduzindo os trabalhos para o nascimento que aconteceria ali do qual eu era o convidado, sentei-me no banco destinado à mim.

O banco estava estrategicamente posicionado para eu ficar próximo a quem daria à luz naquele nascimento, minha esposa, em cujo ventre estava nossa filha prestes a vir a nascer como bebê, mas que ao mesmo tempo também nos fazia nascer como seres diferentes, eu também nascia naquela sala, eu estava sendo iniciado, iniciado como pai.

Em nossas vidas existem muitas iniciações que nos possibilitam nascer como um novo ser, muitos não percebem e não nascem, não evoluem, mas cabe a nós vivermos com consciência, com sensibilidade estes momentos para que eles cumpram seu objetivo metafísico e possamos nos elevar como seres humanos. Trabalhemos nossa sensibilidade, só ela nos eleva nas iniciações que Deus nos convida a ter.

sábado, 6 de agosto de 2011

Leis Eternas

Existe uma predisposição em nós, humanos providos de livre-arbítrio, para fazermos o bem ao invés do mal? Vamos refletir: como nos sentimos ao fazermos o bem e como nos sentimos ao fazermos o mal? Partindo do pressuposto que sim, que somos “feitos” para fazer o bem e que sentimos os efeitos contrários quando fazemos o mal, de onde vem esta imposição natural?
Eis aí a busca pela compreensão das Leis Eternas, leis que sem estarem escritas existem e atuam desde as brumas do tempo e continuarão até o longínquo infinito, por estarem conduzindo a Criação para seu fim último, que por mais que não saibamos seus detalhes, podemos dizer que se trata do equilíbrio e evolução desta Criação. O que determinam e nos dizem estas Leis? Acredito que nos apontam o caminho acertado, nos beneficiando em nossos acertos e nos sancionando nos erros. Algumas destas Leis podemos já conhecer frente aos conhecimentos e experiências que nossa humanidade já adquiriu, tal como a Evolução que é e si uma lei que se impõe à natureza e ao homem, ou a Causa e Efeito que muito além de servir apenas à física também se mostra aplicável nas atitudes dos homens ao longo da história e mesmo nas pequenas coisas de nossa vida pessoal.
Filósofos como Sócrates e Platão afirmavam que devíamos escolher o caminho das virtudes, da justiça e do bem, e nos apartarmos da ignorância e do mal, e isto nos mostra como as mentes observadoras e sensíveis captam os pressupostos das Leis Eternas. Também na filosofia hermética encontram-se muitas referências e estas Leis, tal como nos ensinamentos atribuídos a Hermes Trismegistos contidos no livro intitulado “O Caibalion”, aonde podemos encontrar sete princípios que seriam tal como as Leis Eternas, sendo que dentre estes princípios estão os de Mentalismo, Correspondência, Vibração, Polaridade, Ritmo, Causa e Efeito, Gênero.
Acredito particularmente que a Grande Inteligência Universal é justa e perfeita, e sendo assim a partícula divina que há em nós, nosso espírito, sendo consubstancial ao que lhe deu origem, seja por isto atraído por esta força de justiça e perfeição, tal como a agulha da bússola é atraída para o norte, e isto é o que nos faz pressentir o que é o bem e o que é o mal, nos incumbindo de desbravar os obstáculos rumo à conquista deste fim, vencendo a ignorância e os erros, na medida em que se reflete no aperfeiçoamento da nossa forma de pensar e de agir, no maior acerto das escolhas que fazemos. Destas forma as Leis Eternas, como mantenedoras da harmonia, equilíbrio e evolução de toda a Criação, traçam a rota para que a nossa partícula divina, tendo partido de sua origem, possa também alcançar seu fim e fazer-se digna do Todo.


sábado, 30 de julho de 2011

LAPIDAR A PEDRA


Dando continuidade aos temas anteriores, vou deixar aqui uma poesia que escrevi a respeito, uma poesia para ser pensada...


Lapidar a pedra de minha alma
É este o meu sublime dever
Planejando cada golpe com calma
Para a melhor forma obter

 As arestas que devo lapidar
São minhas limitações e meus defeitos
Sobre elas devo muitos golpes dar
                                Para a cada dia ser menos imperfeito

                                A razão é a força do golpe a dar
                               Só ela revela e mira o imperfeito
                               Devendo sobre a vontade atuar
                               Pois sozinha não causa efeito

                               A vontade é como o cinzel na mão
                              Só com o golpe pode na pedra inscrever
                              Devo então cultivar a força da razão
                              Submetendo a vontade ao dever

                              Fabiano Machado

sábado, 23 de julho de 2011

Conhecer-se e aperfeiçoar-se

Kahlil Gibran, filósofo e poeta libanês, nos diz em seu livro "A Filosofia da Lógica" que "o conhecimento de si mesmo é a mãe de todo conhecimento. Portanto estou incumbido de conhecer a mim mesmo, me conhecer completamente, conhecer minhas minúcias, minhas características, minhas sutilezas, e cada átomo meu". Mas movidos por qual objetivo poderíamos empreender tão trabalhosa, mas ao mesmo tempo compensadora e sublime tarefa? Certamente o objetivo de me tornar melhor do que sou seria o mais nobre dentre os que poderíamos apontar para este trabalho, tornar-me melhor enquanto ser humano, alcançando as virtudes que me faltam de forma a torná-las parte de mim mesmo.

Talvez seja sobre este trabalho de conhecer-se e aperfeiçoar-se que também esteja nos falando Lao Tsé, quando ele nos diz que "quando eu me despojo do que eu sou, eu me torno o que eu poderia ser", pois somente conhecendo-se a si mesmo e despojando-se do que é inútil, do que é prejudicial, chega-se ao aperfeiçoamento, deixando para trás uma parte do que até então se era e abrindo espaço para tornar-se o que poderia ser, sendo que talvez seja por isto que o próprio Lao Tsé também nos diz que "aquele que conhece os outros é sábio, mas aquele que conhece a si próprio é iluminado", justamente porque só quem conhece a si próprio é capaz de iluminar-se, de jogar luz sobre as opções em sua caminhada, clarear sua própria conduta de modo a dar passos cada vez mais acertados na medida que busca seu auto-aperfeiçoamento.

sábado, 16 de julho de 2011

Liberdade e Transformação

“Sob a mais livre das constituições, um povo ignorante é sempre escravo” Marquês de Condorcet
Esta frase escrita ainda no século XVIII tendo como plano de fundo a Revolução Francesa, continua tão atual quanto em sua época, e apesar de mais facilmente ser associada à reflexões sobre política, esta frase pode também nos levar a reflexões acerca de nossas vidas pessoais.

Vivemos em um país livre, em uma democracia, somos livres por direito enquanto cidadãos, mas se nos falta educação e conhecimentos para lidar com situações de nossas vidas, logo nos tornamos escravos dentro de nós mesmos, escravos das poucas alternativas ou da repetição de erros oriundas da nossa limitação. Assim, quantos de nós não são escravos da impaciência, escravos do ciúme, escravos da timidez, do desânimo, do pessimismo ou da falta de vontade? Busquemos conhecimentos e lutemos contra os tiranos que estão dentro de nós, contra a ignorância que nos limita e nos impede de ser melhor, ou será que perdemos nossos ideais e não sonhamos com nada a mais, não queremos ser nada a mais enquanto seres humanos? Você já é livre de tudo isto? Seremos nós o pior tipo de escravo, aquele que se julga satisfeito sendo escravo?
Começar por onde? Lendo, aprendendo, observando, somando a tudo isto a vontade de ser melhor, buscando que em nossa leitura, em nosso aprendizado e em nossas observações estejam elementos úteis para nosso objetivo, e principalmente: tendo vontade e querendo, todos os dias, vigiando-se e perseverando. Como disse Willian Shakespeare: “a transformação é uma porta que só se abre por dentro”.


quinta-feira, 14 de julho de 2011

Conhecimentos úteis...

“Só é útil o conhecimento que nos faz melhores” Sócrates
Esta frase me faz pensar bastante, principalmente antes de enveredar-me pelos caminhos que me levarão a algum conhecimento... Será útil? Tornar-me-ei alguém melhor? Mas melhor em que sentido? Num mundo com tanta informação e conhecimentos é importante saber o que queremos saber.
Somente conseguirei tornar a orientação socrática palpável se eu souber aonde quero chegar, se eu tiver objetivos, sendo assim, por exemplo, se sou vendedor e quero ser um vendedor melhor então conhecimentos sobre vendas me serão úteis... Bastante elementar, é verdade, mas às vezes nos falta perceber a sutiliza com que verdades importantes se mostram de forma simples, vamos ver? Eu sou pai, portanto conhecimentos sobre educação de filhos serão úteis para me fazer um pai melhor, mas será que muitas vezes eu não posso estar deixando de buscar estes conhecimentos para talvez estar buscando outros que não me serão aplicáveis em nada e portanto inúteis para mim? Um pai que dedica horas de sua semana lendo a coluna de esportes ou assistindo Esporte TV e nunca lê um bom livro sobre educação ou mesmo um bom programa de tv a respeito, este pai está buscando se tornar melhor em quê? De forma alguma com isto quero dizer que lazer é "dedicação inútil", seria uma impostura pois também cultivo meus lazeres, mas não devemos suplantar nossas possibilidades de evolução, apenas deixemos esta reflexão agir em nossa mente.

Façamos um planejamento de como é o ser que eu quero ser, e pensemos nisto para escolher os conhecimentos que iremos nos dedicar a buscar, lembrando da Lei de Equilíbrio para distribuir nossa energia nesta busca de forma equitativa tanto para a vida profissional quanto pessoal, familiar, espiritual, etc.

domingo, 10 de julho de 2011

Iniciando...

Para abrir o blog... Porque o nome? Qual o objetivo?

Bom, a descrição no título do blog já diz muito. Pretendo escrever minhas reflexões e observações de meus estudos (sim, eu estudo) sobre espiritualidade, vida, filosofia, enfim, tudo sobre o que encontro de útil em minha caminhada de evolução espiritual e que gostaria de compartilhar com quem também busca, porque acredito que não há evolução humana, tanto material quanto moral e espiritual sem ampliar os horizontes do saber, sem lapidar as asperezas de nosso ser e afastar as trevas da ignorância, e por isto já se disse que conhecimento é luz.

Se Deus é eterno, se o Universo é eterno e se isto torna o caminho eterno, o caminhante também tem que ser... por isto "eterno caminhante".

E como disse Antônio Machado em seu poema "Cantares" cantado com perfeição por Joan Manoel Serrat: "caminhante, não há caminho, o caminho se faz ao caminhar".

Para quem quiser conferir a música (aumente o som) com a letra do poema, segue um link:

http://www.youtube.com/watch?v=DHQ-_bf9NFI