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sábado, 1 de outubro de 2011

MÁSCARAS DA HIPOCRISIA

De acordo com o dicionário, hipocrisia é sinônimo de fingimento, impostura, simulação e falsidade. Falar sobre hipocrisia na sociedade, na política, nas religiões, não é aqui o meu objetivo, pretendo refletir sobre a hipocrisia que há em mim e em você que me lê. Não, não se ofenda, não estou dizendo que somos hipócritas “conscientemente”, se é que seria possível associar estas palavras já que o ser consciente não seria hipócrita, mas fica mais fácil de entender. A hipocrisia no seu aspecto macro (sociedade, política, religiões, etc.) é reflexo e consequência da hipocrisia que está no micro (homem).
Para que não haja hipocrisia deve-se buscar a coerência, o equilíbrio, entre pensamento, palavra e ação. Quando eu suponho ter dentro de mim uma verdade que assumo como tal, mas minhas palavras, meus diálogos com os demais, não refletem a dita verdade que outrora eu estava afirmando, então estou escorregando na hipocrisia. Se minhas palavras soam como um bem, podendo até mesmo servir no dado momento a estimular o bem no outro, mas eu internamente penso diferente ainda que esconda isto, estou também sendo hipócrita. E por fim se eu penso e falo, mas não faço, mais uma vez estou sendo hipócrita, e esta é o tipo que mais facilmente identificamos (mais facilmente ainda no outro) em uma sociedade aonde parecer substitui a necessidade de ser. Assim o sujeito logo supõe que se ele consegue parecer inteligente e culto, não precisa se esforçar para ser de verdade, se ele tem muitos livros e aprendeu a citar algumas coisas parecendo alguém que lê, não precisa então “gastar” seu tempo lendo, se o jovem “faz bonito” diante dos pais e parece um bom filho, logo não se esforça para ser o mesmo quando está longe dos pais já que ser “bom filho” é algo que importa aos pais dele e talvez não aos amigos. Da mesma forma para muitos basta parecer espiritualizado, repetindo frases desgastadas aonde menciona Deus ou praticando algum culto religioso para parecer que cultiva sua espiritualidade e merece a "piedade divina", enquanto não faz nem o mínimo do verdadeiro trabalho do homem espiritualizado que é crescer internamente, instruir-se e ser cada dia mais virtuoso e mais humano. Pensamento, palavra e ação devem estar unidos como vértices de um triângulo, o triângulo do caráter, se um dos vértices se rompe, desconfigura-se o caráter.
Mas pensamento, palavra e ação devem ser coerentes não apenas cuidando-se para não errar, mas também como um “exame de consciência” para fazermos regularmente e medirmos nossos passos na caminhada de nossa evolução, pois o ser que tem bons pensamentos, boas palavras, mas não sabe agir, ele pode estar falhando por não praticar o bem, mesmo que não esteja fazendo o mal. O ser que tem boas palavras, boas ações, mas não pensa, apenas aprendeu a seguir “boas regras” e acomoda-se, este pode estar simplesmente falhando consigo mesmo no livre exercício da razão, e quando as regras lhe faltarem, forem insuficientes eu até mesmo abaladas, ele possivelmente não saberá mais como caminhar. E ainda o ser que tem bons pensamentos, boas ações, mas não se exercita nas palavras, também está falhando pois o bem que se sabe não pode morrer consigo mesmo, é importante saber ensinar com o exemplo certo mas também com as palavras certas, por isto sempre os três juntos e em correspondência: pensamento, palavra e ação... mirando a evolução!
Mas até aqui alguém já teria me perguntado: será que eu não tenho também dentro de mim este germe da hipocrisia que estou aqui criticando? Tenho sim, e você não tem? Mas a minha já faz bastante tempo que começou a me incomodar, e em uma batalha ganha aqui, outra perdida ali, vou assumindo a luta... porque é fácil incomodar-se com a hipocrisia alheia mas é ainda mais fácil ser conivente com a própria, até porque é comum reconhecê-la no outro e é difícil descobrir que ela também está em si mesmo, chegando a ignorar-se a existência dela em si mesmo, mas está na hora de descobri-la. Oscar Wilde disse que: “o descobrimento é o primeiro passo para a evolução de um homem ou de uma nação”, neste caso a frase também é válida para as descobertas no conhecimento de si mesmo, descoberta de valores mas também de defeitos a serem corrigidos. 

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