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quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Subindo escadas

Diz-nos Joseph Campbell: "um símbolo contém a estrutura que desperta nossa consciência para uma nova percepção interna da vida e da própria realidade. Através dos símbolos nós entramos emocionalmente em contato com nossa essência mais profunda, com os outros e com Deus".
As escadas são símbolos consagrados para os que buscam a evolução de sua espiritualidade, seja na crença rudimentar daqueles que sobem de joelhos grandes escadarias acreditando que serão melhores ao chegar no topo ou na busca espiritual dos que imaginam-se metaforicamente numa escada invisível que representa os degraus de sua própria evolução a qual deve galgar degrau por degrau. A escada é um símbolo primitivo e consagrado de elevação no sentido de ascensão, seja uma escada reta, seja uma escada em espiral, a escada cria um caminho de elevação de um plano mais baixo para um plano mais alto, e isto faz franca analogia com o desejo em acessar níveis mais altos de consciência, de uma visão transcendental mais elevada já que é do alto que se tem mais visão do todo.
No budismo há representações de Buda no alto de uma escada de sete degraus, que representam os sete céus ou estágios de consciência que o iniciado teria de ascender para chegar ao último que é o Nirvana, a plenitude espiritual.
Na antiga religião egípcia existem pinturas que mostram Osíris no alto de uma escada, também referenciada no Livro dos Mortos, que é a escada que une o céu e a terra, sendo por onde os deuses desciam para estarem entre os homens. Isto porque os deuses para os egípcios habitavam o céu, Rá (Sol) está no céu, Isis (lua), está no céu, portanto para chegar ao céu ou descer dele era necessário uma escada mística, guardada por Osíris, o deus dos mortos e responsável pelo julgamento das almas.
Por último chegaremos na consagrada escada de Jacó, consagrada pela cultura judaico-cristã vigente em nossa era vulgar. Antes apenas como curiosidade histórica, cronologicamente na Bíblia Jacó é bastante anterior a Moisés, mas vale recordar que o Velho Testamento como documento histórico é atribuído às gerações posteriores a Moisés baseadas em sua tradição oral. Moisés foi um príncipe do Egito, conhecia a fundo a religião egípcia e sem dúvidas fora iniciado nos mistérios egípcios. Por coincidência deste fato ou não, temos também na fé judaico-cristã a escada de Jacó com o mesmo sentido de comunicar o céu e a terra, o plano baixo e o plano elevado, assim como no Egito e no oriente de Buda, que para os que buscam a compreensão simbólica sempre vem a representar a ascensão do mundo conhecido ao mundo superior, de uma vida profana à uma vida espiritualizada, de um estado materialista e inconsciente (plano inferior) à um estado espiritualizado e consciente (plano superior).
Então nos resta agora refletir sobre o que este símbolo pode nos inspirar. Como construtores de nossas próprias vidas, se queremos elevar o nível de nossa obra temos que nos valer da escada, mas como? Os pedreiros antigamente, e muitas vezes ainda hoje, ao fazer uma obra faziam também sua própria escada, juntando duas longarinas de madeira no plano horizontal e pregando ou amarrando as travessas que serão os degraus, depois erguendo-a na vertical por onde se sobe. Como fazemos nossa escada? O que seriam as longarinas? Talvez a razão e a sensibilidade. O que seriam os degraus? Conhecimentos talvez, conhecimentos úteis e virtudes para nos elevar já que a escada representa ascensão. Nosso trabalho é juntar e fixar bem todas as partes que separadas não seriam suficientes para serem uma escada, mas que reunidas e fixadas como uma só, formam a escada que nos dará acesso a uma realidade mais elevada e uma visão mais ampla.

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